Paraíba

ARTIGO

“Berra Cabrito”

Com as medidas recentes da Direção do BNB [...] deram origem a um forte movimento, o #FicaCCBNB [...]

Brasil de Fato | João Pessoa - PB |
Entidades e artistas se unem para tentar evitar fechamento de Centro Cultural CCBNB -
Entidades e artistas se unem para tentar evitar fechamento de Centro Cultural CCBNB - - Card da internet

No final de junho de 2007 vi uma declaração de Gilberto Gil quando da sua passagem na cidade de Sousa (PB) para inaugurar o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB). Soube que o avião que o conduziu pousou em Patos. De Patos ele seguiu de carro até Sousa, no dia 25 de junho daquele ano. 
Ao falar para a multidão que assistia a vasta programação de abertura do CCBNB, Gil iniciou cantarolando “olha pro céu, meu amor” e se emocionou ao narrar, brevemente, o trajeto que fez entre Patos e Sousa, relembrando o céu sertanejo, fogueirinhas à beira da estrada, enfim, o cenário nordestino numa noite junina. 
Gilberto Gil canta "Olha pro céu meu amor" durante inauguração do Centro Cultural BNB
Revendo um vídeo agora com esse registro fiquei tocado novamente com o gesto, a fala de Gil, e pensando no significado que teve pra ele, Ministro, Poeta, Humanista, a abertura de um Centro de Cultura no alto sertão paraibano.
Volto a esse fato ao receber informações de que as atividades do CCBNB de Sousa, e das cidades de Juazeiro do Norte (CE) e Fortaleza (CE), estão ameaçadas de descontinuidade.  No caso de Sousa, já neste mês de julho, 70% da programação não será realizada. No site do Banco/CCBNB já não aparece a programação referente a julho e agosto. Até o final de junho não havia qualquer informação sobre as atividades programadas para os meses seguintes, o que não era comum na comunicação dos Centros.
O CCBNB-Sousa tem na sua estrutura física uma biblioteca, salas de leitura e estudos, cabines equipadas com aparelhos de DVD e videoteca. Além de um Teatro com 158 lugares, sala de ensaios, galeria de artes, dentre outros equipamentos. Com essa estrutura, ao longo dos seus 12 anos de existência (2007-2019) o Centro já atendeu a uma expressiva quantidade de usuários, mais de 2 milhões de pessoas. 
O fato é que as medidas recentes da Direção do BNB , seja retardando o anúncio da programação desse mês de julho, seja dispensando colaboradores dos CCBNBs nas três unidades (Sousa, Juazeiro do Norte e Fortaleza), deram origem a um forte movimento, o #FicaCCBNB, com a participação de diferentes setores socioculturais e políticos nessas regiões que seguem firmes para garantir a manutenção e ampliação desse expressivo trabalho de formação, difusão e promoção da cultura nesses municípios. 
Desde junho é possível observar uma agenda intensa de atividades nos dois estados (Ceará e Paraíba), mobilizando diferentes setores da sociedade, principalmente aqueles ligados à educação, cultura e política, a exemplo de audiências públicas nas Câmaras de Vereadores dos Municípios das regiões afetadas. Em Sousa, uma Audiência será realizada dia 19 deste mês de julho. Na Assembleia Legislativa do Ceará uma concorrida audiência conjunta com a Câmara de Vereadores de Fortaleza foi realizada no dia 7 deste mês e contou com a participação efetiva de parlamentares, representantes de instituições culturais e representantes da Direção do BNB.
Junto com essa agenda parlamentares do Congresso Nacional já se movimentaram no sentido de garantir o funcionamento dos CCBNBs. A atuação dessas frentes em torno do Movimento #FicaCCBNB já produziu de imediato respostas públicas dos dirigentes do Banco que asseguraram a continuidade das ações dos Centros.
Em consulta ao site do Banco, realizada no dia 15 de julho, já é possível acessar as programações dos Centros Culturais para esse mês no Cariri, Fortaleza e Sousa. Lembrar que até o final de junho passado não constava a programação de julho nem agosto, o que não era comum acontecer. O Banco tem alegado que estava em curso um “ajuste na gerência das atividades do CCBNBs”.
 Centro Cultural Banco do Nordeste em atividade
Considerando o histórico de atuação desses Centros Culturais e a forte relação que esses equipamentos firmaram com amplos setores sociais dessas cidades não é difícil pensar que o anúncio de medidas dessa natureza deveria ser precedido de uma boa comunicação com os seus usuários e a população de um modo geral. 
Pelo sim e pelo não sempre é bom lembrar que no Cariri e no Sertão “bom cabrito é o que mais berra”.
Buda Lira - Ator

Edição: Cida Alves