“Quem melhor que os oprimidos, se encontrará preparado para entender o significado terrível de uma sociedade opressora? Quem sentirá melhor que eles, os efeitos da opressão? Quem, mais que eles, para ir compreendendo a necessidade da libertação? É a partir dessas indagações de Freire que tecemos algumas reflexões sobre a Educação Contextualizada no Semiárido Brasileiro.
Muito se tem falado, escrito e publicado sobre esse paradigma pedagógico que vem sendo forjado a partir das pessoas e sujeitos sociais que constroem e reconstroem cotidianamente nas suas lutas e utopias o Semiárido como território, como lugar de existência, convivência e transcendência. Aqui pretendemos reafirmar a Educação Contextualizada no Semiárido como uma perspectiva insurgente, subversiva e por isso mesmo, revolucionária, uma vez que ela emerge da crítica aos fundamentos de uma educação tradicional e conservadora, arraigada num modelo colonizador eurocêntrico, etnocêntrico e burguês. Modelo que nega e invisibiliza todas as múltiplas e variadas formas que as populações originárias e povos tradicionais construíram e constroem sua vida e cultura.
Retomando o mote inicial da nossa reflexão, entendemos que a Educação como um processo contínuo e permanente de humanização e hominização, permeado por relações e arranjos de poder, só pode ser desvelada e transformada por esses mesmos sujeitos que vítimas de uma educação descontextualizada e domesticadora, têm o potencial de desvelar esta realidade e transformá-la. É essa a aposta que movimentos e organizações sociais populares do Semiárido brasileiro vem fazendo desde o início dos anos 2000 através de articulações em Rede(s).
No campo da Educação destacamos o papel político-pedagógico da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (RESAB) que vem atuando em espaços escolares e no âmbito das políticas públicas de educação forjando um processo educativo que reconhece o Semiárido como “lugar” por excelência, de construção de conhecimento, de afirmação dos seus aspectos naturais e culturais como conteúdo a serem escolarizados. Contribuindo mais expressivamente nos processos de formação de educadores e gestores, a RESAB compreende a escola como espaço de contra hegemonia, de desvelamento das contradições e desigualdades que marcam historicamente o semiárido Brasileiro. Nesse sentido destacamos também o trabalho educativo da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), que vem há mais de duas décadas semeando vida e esperança no sertão; afirmando que outro projeto de Semiárido é possível.
É o compromisso com a transformação das relações sociais desiguais, o reconhecimento e valorização dos povos do semiárido e a afirmação das potencialidades e possibilidades dessa região que caracterizam o que aqui denominamos de Educação Contextualizada no Semiárido Brasileiro: semente de resistência, utopia e revolução.
* Professora da UFPB
Edição: Heloisa de Sousa